Blog em construção. Clique em >Sobre< que aparece na página inicial para saber mais. Olha, as coisas são bem mais interessantes quando experimentadas -- é sobre isso. Um tom sedimentar, uma floresta e a eterna chuva e, o aguardo. ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑ ❑
Não há volta, sinto lhes dizer, nada é tão certeiro quanto o fim, e rumo aquilo que já é enigmático por si só, todo mundo vai. Independente de como, viver é um privilégio dourado, salvo casos gritantes, ou, acasos que te deixam sem escolha. Quando o brilho acaba, em ataúdes, dentro, na inquietude da vida, veremos alguns seres já não sendo mais o que lhes restam. O falecido já não pode gesticular, reclamar, agradecer, sorrir, sentir e ver que a sua hora virá, em breve -- ali. É a morte. E tal como ele, por ela, seremos atravessados pelo tempo, cobertos e engolidos, em neve ou em terra simplesmente. Nunca há de se saber como e quando. Quando for, que seja feito. Vai acontecer. Deixar ela vir, por assim dizer, sem se jogar, ainda é melhor do que deixar que nossos pensamentos sejam assolados pelo sentido da vida, em via mórbida. E é por essas e outras, que em busca de possibilidades, em noites de viração, visando contatos constantes com ourives, atiçados, alguns já foram, no meio do caminho, sem imaginar que, nas ossadas expostas, sem suas jóias, lá estariam a quem quisesse ver, sem seus nomes de batismo. Triste fim.
E é por isso que ao pensar na vida e no que as pessoas fazem com a mesma, vem na mente muitas coisas, e é preciso colocá-las pra fora, de forma a entender e de forma a se entender o quê pode ser feito. Nisso, no âmago do saberes, falando agora dos bons pensamentos, visualizando o realismo da vida, de maneira abstrata, há quem prefira se perder em seus largos conceitos; há quem prefira ver mais de perto o que é, e há quem prefira viver para ver. E há também quem visasse quem quisesse viver, de maneira concreta, para ver mais de perto o que é, de maneira abstrata. A estes últimos, não exatamente da forma colocada, mas com feixes elucidativos, é convidativa a filosofia epicurista, fundada por Epicuro. Com ele, as enfâses mudam, a forma de ouvir, a ética, o ver, o viver. Em uma palavra: Ataraxia.
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Epicuro foi um filósofo grego que, embora, tenha nascido na ilha de Samos, revindicava cidadania ateniense por parte de seu pai. Seu nascimento, dentro do período helenístico, é datado de 341 a.C., e sua morte (a qual não se importava) se encaixa em 270 a.C.. Sua entrada na filosofia não ocorreu precocemente, pois, embora aos 14 anos seja [hoje] uma idade incomum de interesse na área e, conforme, ocorrido com o mesmo, Epicuro, enfatizava que não existia idade para o conhecimento e a prática da filosofia. Nesse período de iniciação filosófica teve como tutor/mestre o filósofo platônico Pânfilo, rompendo com este aos 18 anos e partindo para a cidade de Atenas. Filósofo e sábio que foi, Epicuro de Samos, influenciou várias figuras notórias posteriores, como: Horácio, Lucrécio, Cícero, Diógenes de Oenoanda, Pierre Gassendi, Margaret Cavendish, Karl Marx e mais recentemente Michel Onfray; dentre vários outros.
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"Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bemestar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo(...)"
(Trecho de "Carta Sobre a Felicidade [a Meneceu]"; tradução de Álvaro Lorenzini e Enzo Del Carratore)
Quando os vestígios dos primórdios filosóficos socráticos/platônicos perecem no enfoque, surgem novos. A Ataraxia (Ἀταραξία), por exemplo, conhecida busca pela tranquilidade do espírito, aparece em contrapartida ao exercício político desenvolvido e anterior ao período helenístico. Epicuro, já na maturidade (dando um salto) funda sua escola, que tem como principais rivais: o estoicismo e o pyrronismo; ambas próximas devido à Eudaimonia (εὐδαιμονία), a busca pela felicidade atrelada com conceitos menores. O Ocidente não parece tão distante do Oriente nesse período, em termos de filosofia, do jeito vago de se dizer. Das pólis aos impérios, talvez, o que havia era uma mudança que não matava critérios anteriores, mas, que se distanciava destes, abrindo espaço àqueles que desejam viver de tal modo, de tal forma, que aprenda os preceitos para isso, o mais distante da metafísica possível, tal como era defendido pelos sábios. Se antes a filosofia era uma espécie de masturbação mental e verbal, agora sob o foco do viver agora era indispensável, como abraços que conciliam a vida com o pensamento de como vivê-la. Como? Quando? Quem sabe? A quem cabe. São perguntas que contradizem em muito os labirintos da mente com um mapa facilitando o acesso, não do espaço concreto e sim do que fazer diante dele. Epicuro propõe justamente isso, no início e no final, a filosofia da vida e o possível caminho delineado a quem vive tal perspectiva sem deixar de lado o pensamento, o julgamento e o aprendizado. Não há idade que impeça que alguém adentre a filosofia, não há pressa e nem atraso.
≼ ≽ Um suspiro em meio a tudo isso ≼ ≽
Na alegria do viver, como bem sentimos, lindas rosas nos acomodam; na tristeza, contemplação digital assola os olhos cansados, falando mais precisamente dos tempos presentes. Caminhada de casados pela rua em contraste com a esteira da casa próxima ao descrito, de fins sem fins, para fotos e, saúde. Nos carros que passam: rostos — felizes? Não parecem. Rastros e fatos a se encontrar com o novo e recorrente recrutamento, enquanto ruas, asfaltos, concretos e aços assolam o sorriso inexpressivo, cansado, do recuo em direção à casa, menos distante que antes. Dificilmente você já viu um filme sobre a vida na cidade em que alegria, euforia e atraso se entrelaçam, estou certo? Pois, quem dentre prédios enormes para e contempla a cor do cartaz? Poucos. O cheiro de panfleto, os outdoores luminosos e, os mínimos prazeres estão lá com os pesares da degradação consequente, mas estão. Eis o ponto, de que forma podemos aproveitar os mínimos prazeres nos locais mais inimagináveis possíveis? Simples, não se preocupando com os problemas e almejando, justamente, o simples, é disso que se trata.
Na roda da fogueira ou simplesmente na folia, em meio à fumaça do hedonismo na areia, seja em meio às praias de sábado às visitas às ilhas e montes à la Himalaia no domingo, ou por vezes a quem, em suas pranchas, acaba por inalar água duvidosa e, dependendo da área, já de adendo: ascosa, suja e cheia de crostas à la Bertioga (arghh), é feito, anteriormente, um convite distinto com teor não contrário que trata de selar um prazer almejado (ou prazeres almejados) dentro de um local específico. Epicuro, que defendia um certo hedonismo, como já dito mais acima, fazia também um convite, mas, não pense no sentido convencional da palavra, como um hedonismo satanista, afrodisíaco, por exemplo, evite a ótica remetente ao sexo recorrente e ademais. O que é colocado pelo filósofo é, na realidade o contrário: os prazeres pelas coisas simples, de forma que, esses não sejam mutilados por desejos e deleites escatológicos à nível orgiástico. Claro, a essa hora muitos farão perguntas (mentalmente) sobre os níveis delineados para se pensar os limites, o que também nunca foi a proposta, que fique claro. Quando se fala na existência do preenchimento prazeroso seguindo a possibilidade, se trata de algo que não excede a quantidade julgada, afinal, o prazer não é só intrínseco à expectativa, como muitos defendem, quanto pelas variações que o permitem da melhor forma possível.
Com o tempo, passamos a ter medo da areia sugestiva que arde juntamente com o sol (ou não). Mas, antes da areia há uma passagem à água restrita que a demora trata de desfazer. Um líquido vitalício, muitos diriam, um elixir, cujo local em que se insere, dentro/fora demarca a vida e a morte, isso é: a água que entra na garganta hidrata, enquanto o ser que ali, dentro dela, não consegue respirar e por pouco não morre, sendo salvo, conhece o desespero antes do ocorrido. Dos riachos às banheiras, ou de outros modos secos, como no sertão, o lamento pela vida grita calado, e mulheres e homens (normalmente adolescentes) desejam não ter vivido perante ao ocorrido, seja lá o que for. Assim é uma parte da vida para muitos: um afogar-se constante, e que parece o fim. Ora belo, ora sufocante, mas de um jeito ou de outro: divino. O que começa e o que termina, bem como o processo, nos levam, ao que teria iniciado e o que dará fim, e nisso, se apoiamos nas crenças catastrofistas comuns para entender acontecimentos como este. A mão que dá é a mão que pune no processo, e no fim há um lugar reservado para aqueles que a conta não for satisfatória. Assim entoam. Viver dá medo. O tempo voa, mas o sentimento continua. O fogo aumenta, é punição; a água bate no joelho, é punição; na hora do ataque do urso, munição não havia, é punição; a árvore cai, mais uma lição. "E que aprenda com ela então!". Os deuses [gregos] se tornam aterrorizadores, mas calma que não é assim, pois mais vale a proximidade do que de fato é, do que a crença popular vomita em cada canto. Nos nossos parâmetros: mais vale a fé em deus, do que a devoção religiosa.
Epicuro, apesar das divergências com Democrito, de maneira indefinida, era um atomista que não possuía o véu da crença no pós-vida, tal como projetado. O ser que quer como quer, vista como vista a existência, complete-a como compete o amor por merecimento no final, ainda em vida, morre em fábulas. Infelizmente, das fantasias que se desenvolvem, das projeções malignas daqueles que as retém, ainda que quem sabe, quem viu e quem trouxe a prova está implícito, há visões precoces e distorcidas abraçadas com fervor. Dos que dizem que sabem, não se contentando com os desenhos da Disney, pelo menos, há um caminho: a distância da sabedoria e a autodemarcação indireta. Pois é, há prazer também na ignorância alheia. Podemos avaliar daí as decisões que tomamos em relação a nós mesmos, e quase que inevitavelmente ver que valeu a pena. É necessário que cada um olhe por si mesmo; a pele, o rosto, e tudo mais, tal como são. Nessas, todos veremos que nascer, crescer e correr em diferentes idades, contra o tempo e ceder à idade em detrimento de um fator concebido por X exteriores, faz parte. O que não pode é não reavaliar o que foi feito quando a oportunidade vir à tona.
Epicuro, cuja tradição que inspirou trata de complementá-lo, defendia que a filosofia era para todos e sem exceção, no sentido do que temos como consciência das escolhas em meio à liberdade individual; essa que constitui preceitos e caminhos moderados. Bom, para que pensar em uma linda lápide? Não são coisas de mortos que não possuem preceitos e nem consciência de si mesmos? A quem interessa um enterro com custos altos, além das pessoas tristes que, com o falecido conviveram? Consegue imaginar seu funeral? Epicuro, certamente cortaria tais perguntas e diria que a vida, aqui e agora, é o que importa; depois tudo se desfaz. Viver é sentir, morrer é o contrário, àqueles que não querem sentir dor, ansiedade, ou seja o que for, que morram então. Parece grosseria, mas é verdade. A morte não é nada, você só a conhece quando não conhece mais as dúvidas sobre ela, se desfazendo na terra então e morrendo oficialmente. Para o filósofo, viver é o ser anti-gótico, carecer de preocupações em relação à suposta vida póstuma.
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A música abaixo ilustra um pouco a perspectiva atomista, embora, o álbum em si, seja recheado de preocupações as quais Epicuro rejeitava na formulação do bem-estar.
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Black Label Society - Rust
Vivendo, lutando, obcecado
Só enquanto eu possa compartilhar tudo com você
Ontem, hoje, amanhã
Faça chuva, faça sol
Inferno e volta, o início, no meio
Até o fim dos tempos
Tudo o que brilha, vira ferrugem
Tudo o que permanece no tempo
Vira poeira
Como acima, assim abaixo
Você não é idiota e querida eu estou certo de que você sabe
Em meio às feridas da vida, no caminho necessário, cuidar dos cortes é ainda mais, mesmo aqueles que no calor do momento se provaram falhos, no fundo indicando que o cuidado com a mente precisa ser visto com urgência. Quando cansados, os seres, normalmente desocupados e não nos afazeres necessários inerentes à sobrevivência, comem pedaços de propagandas, crendo no conforto que terão. Esqueça isso, não viva sua vida pensando somente com o olho, faça um encontro consigo mesmo, visando o inverso, para então ecoar seus próprios versos, e tirar Deus do senso comum. E não pense que os prazeres não são um brinde da dor, pois muitas vezes são. Então: que saia o sal exagerado do jantar, e que vá logo o sol exacerbado para que o prazer do líquido que adentra a garganta, a água, seja sentida com mais intensidade. Que venha a chuva para aliviar o calor. Que saia a chuva também para que as crianças possam brincar no jardim. Que nasça flores. Que nasça folhas. Que caiam as folhas. Que a estação passe, e que a vontade de viver não cesse.
O sexo, por exemplo, não é feito sem uma dosagem de dor, em alguma fase — por que haveria de ter prazeres sem nuances sentimentais, sem passatempos, contratempos, neblinas e nuvens carregadas? Não responda, não perca seu tempo questionando, sinta, mas não esqueça que isso não se trata de um anti-intelectualismo latejante, pelo contrário, o homem sábio é quem melhor sabe como viver, pois, antes da prática vem o aprendizado.
O que é terrível é fácil de suportar
Os tempos em que os que vivem, aproveitam e extraem o prazer, é dentro de um agir que alimenta o indivíduo perante suas relações com os objetos e o ambiente, relativo em relação à idade. Não estamos falando do sentido que tentam imputar normalmente, mas sim das danças em meio às decadências que surgem, isso é, a possibilidade de sentir prazer até nos perrengues. Não se deve portanto, em uma relação, criar expectativas, pois, estamos lidando com seres mortais, que cedo ou tarde, perecem; tendo assim, a possibilidade de levar a sua felicidade juntamente. Portanto, não tenha certeza das coisas e espere o pior, para que quando aconteça o temível, o impacto não lhe seja tão forte, que não lhe seja mais terrível e sim um acaso da contingência inexorável. Os prazeres na prudência se entrelaçam com as virtudes e, vitalício é o que acarreta o prazer de sentir o intenso de forma simples e o simples de forma intensa em pouco tempo, ou, dispersadamente, muito tempo. A esperança morre e mata o momento, um momento de esperança não precisa ser intitulado ou elevado; de elevadores a escadas, como exemplo, sábios não casam, pois, quem casa mata a liberdade em detrimento de um momento, mas aí é que tá: casar é algo simples ou complexo? É descartável? Não se trata de uma receita premeditada, e sim preceitos nos momentos, reforço eu. Até mais.
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Disturbed - Hold On to Memories
Ouçam, pessoal Chega uma hora em que todos temos que dizer adeus Você sente aquela dor no coração É deixado quebrado por dentro Mas nós nunca vamos embora de verdade Desde que fique a memória em sua mente
Então agora vá, faça as coisas boas da vida Desfrute deste mundo enquanto você pode Aproveite o máximo do resto da sua vida Faça uma bela jornada desse mundo enquanto você pode
Pegue aqueles que você ama E os mantenha perto, porque há pouco tempo E não deixe que isso parta seu coração Eu sei que às vezes parece que não tem esperança Mas eles nunca vão embora de verdade Desde que fique a memória em sua mente
Então agora vá, faça as coisas boas da vida Desfrute deste mundo enquanto você pode Aproveite o máximo do resto da sua vida Faça uma bela jornada desse mundo enquanto você pode
E agarre-se às memórias Agarre-se a cada momento Para mantê-los vivos É a maior tragédia do mundo Almas que não são lembradas Não podem sobreviver
Então agora vá, faça as coisas boas da vida Traga a luta a este mundo enquanto você pode Aproveite o máximo do resto da sua vida Brilhe sua luz sobre este mundo enquanto você pode
E agarre-se às memórias Agarre-se a cada momento Para mantê-los vivos É a maior tragédia do mundo Almas que não são lembradas Não podem sobreviver
E agarre-se às memórias (fique firme) Agarre-se a cada momento Para mantê-los vivos (mantenha-os vivos) É a maior tragédia do mundo (fique firme) Almas que não são lembradas Não podem sobreviver (não podem sobreviver)
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R e f e r ê n c i a s
EPICURO. Carta sobre a felicidade: (a Meneceu) /tradução e apresentação de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. — São Paulo: Editora UNESP, 2002.